Fim de jogo

20 de Janeiro de 2013, 19h30. Estamos de volta em casa. Saímos daqui no dia 26 de Dezembro do ano passado, no começo da noite. Chegamos hoje, no começo da manhã. Ao todo, vinte e quatro dias na Europa, mais o dia de saída e o dia de chegada, em que estivemos no Brasil por boa parte das horas, mas passamos algumas horas no ar…

Durante boa parte da viagem tivemos a deliciosa companhia da Sílvia Klis e do Edson Saggiorato, que saíram um dia depois e voltarem uma semana antes. Os dois são amigos muito queridos, pessoas muito agradáveis e de fácil convivência… E são excelentes e divertidos parceiros de buraco. Herdei a amizade da Sílvia, que conhece a Paloma há muito tempo. Elas trabalharam juntas na Secretaria da Educação de São Bernardo do Campo. E, agora, trabalham juntas no Colégio Visconde de Porto Seguro. E, quando ela começou a namorar o Edson, herdei a amizade dele também. Em Dezembro de 2011 a Sílvia, a filha dela, Marcela, e nós dois (a Paloma e eu) passamos alguns dias juntos em Gramado, assistindo ao Natal de Luz. Naquela ocasião a Sílvia ainda não havia reencontrado o Edson (eles se conhecem há muito tempo) — algo que só aconteceria alguns dias depois, no finzinho do ano (acho que na Véspera do Dia de Ano).

Falando da nossa viagem, ficamos em várias cidades. Chegamos em Zurique mas pegamos o avião quase que imediatamente para Viena. De Viena fomos para Praga, onde encontramos a Sílvia e o Edson e passamos o Réveillon. Depois fomos para Chesky Krumlov, que, acredito, todo mundo achou o ponto alto da viagem.  (A Paloma ficou meio em dúvida depois de ir ao Topo da Europa, a estação de Jungfraujoch, e de conhecer Veneza.) De Chesky Krumlov, fomos para Budapest, de Budapest para Salzburg (a Sílvia e o Edson tendo ficado dois dias em Viena, contando o dia de chegada), de Salzburg viemos para Genebra.

Em Genebra a Sílvia e o Edson ficaram apenas dois dias (contando o dia de chegada). Nós, nove. O plano era voltarmos ontem, dia 18. Mas para simplificar um pouco a nossa vida, conseguimos (pagando uma taxa), mudar nosso retorno para sair de Genebra, e não de Viena, como originalmente previsto. Mas como a taxa para mudar o retorno mantendo a data era muito alta, e se voltássemos no dia seguinte seria apenas 25% do que teríamos de pagar para voltar no mesmo dia (entendam-se as companhias aéreas!), optamos por ficar mais um dia.

Agora sem a Sílvia e o Edson, que foram para a Paris, onde ficaram dois dias, fizemos três viagens importantes, mantendo a base de operações em Genebra, onde deixamos nossas malas e outras tralhas): fomos ao Jungfrau, a Paris e a Veneza. A Paloma já conhecia Paris e, naturalmente, conhecia a Suíça (Zurique e Winterthur), mas não conhecia nem o Jungfrau nem Veneza. Quem leu os relatos dela dessas duas viagens, certamente há de notar a alegria e o entusiasmo dela por essas duas localidades.

Ao todo: Viena, Praga, Cesky Krumlov, Budapest, Salzburg, Genebra, o conjunto de cidadezinhas ao redor do Jungfrau (Lauterbrennen, Kleine Scheidegg, Wengen, Grindelwald…), Paris e Veneza. (Em Zurique só passamos duas vezes pelo aeroporto; em Milão e Verona passamos duas vezes pela estação ferroviária). Nove cidades, se contarmos o Jungfrau e redondezas como uma. Deu uma média de menos de três dias por cidade, mas médias são apenas médias.

Amanhã a Paloma começa a trabalhar… Não terá muito tempo para descansar das férias. Na verdade, nenhum tempo. Férias são coisas deliciosas, mas mesmo quando tudo vai bem, como no nosso caso, elas cansam e dão saudade de casa.

De todos os nossos blogs de viagem, e há inúmeros, este foi o mais longo (porque a viagem foi a mais longa) e aquele no qual mais escrevemos. Também no tocante a fotos, batemos nosso recorde, porque estávamos com duas câmeras boas. Os demais posts do blog são facilmente acessáveis em https://tripeu20122013.wordpress.com e as fotos estão todas disponíveis em álbuns meus e da Paloma nos nossos perfis respectivos no Facebook (http://facebook.com/eduardo.chaves/ e http://facebook.com/palomachaves/.

Queria dizer, por fim, que viajar com a Paloma é uma delícia. Ela é interessada, motivada, entusiasmada pelo que vê, pesquisa de antemão os locais que vamos visitar, tem uma memória espacial e um senso de localização absolutamente fora do comum, lê e compreende com rapidez e facilidade os mapas das cidades e os complexos esquemas de linhas de transportes urbanos (metrôs, trams, ônibus, trens metropolitanos, até mesmo barcos, etc.). É uma navegadora de primeira.

É verdade que, de vez em quando é meio teimosinha… Mas tem razão de ser: dificilmente perde uma teimada.

(Mas ontem perdeu uma… 🙂 Estávamos na loja vendo um Airfryer, que tinha apenas a marca Philips, e ela garantiu que o que havíamos visto em Viena era Philips Walita, como no Brasil. Eu disse que não. Ela tinha tanta certeza que puxou o telefone e foi me mostrar a foto que havia tirado em Viena. A marca era apenas Philips. De vez em quando eu preciso ganhar uma, não é verdade? Caso contrário não teimo mais…).

Desde que passamos a viver juntos, em 6 de Setembro de 2008, a Paloma e eu já fizemos as seguintes viagens para o exterior: Cidade da Guatemala, Buenos Aires e Cidade do Panamá, na América Latina, Estados Unidos (duas vezes, em ambos os casos com as meninas, na primeira passando por Washington, San Francisco e Los Angeles, na segunda, acompanhados  também pelas minhas outras duas filhas, passando por Orlando, Washington, Cortland e Niagara Falls — do lado americano). Fomos uma vez para a África, a Cape Town, na África do Sul. E fomos quatro vezes à Europa. Em três delas, passamos por Portugal e pela Inglaterra. Em duas (incluindo a viagem recém terminada) passamos pela Suiça e pela França. Em uma passamos pela Galizia, no norte da Espanha, noutra pela Alemanha. E, nesta última viagem, passamos também (além da Suiça e da França) pela Áustria, República Checa, Hungria, e Itália.

Em resumo, já visitamos juntos, nesses quatro anos e quatro meses, os seguintes países: Guatemala, Argentina, Panamá, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Suíça, Alemanha, Áustria, República Checa, Hungria, Itália e África do Sul — quinze, ao todo.

Dentro do Brasil já viajamos (fora do Estado de São Paulo) para Amazonas (Manaus), Bahia (Salvador), Distrito Federal, Goiás (Rio Quente, com as meninas), Minas Gerais (Monte Verde e Camanducaia) e Rio Grande do Sul (Gramado, com a Sílvia Klis e a Marcela).

Qual será nossa próxima viagem para fora do nosso estado? Será para o exterior?

Tchau a todos e obrigado por nos acompanharem em nossa viagem.

Em São Paulo, 20 de Janeiro de 2013

Eduardo Chaves

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Vigésimo quarto dia: Espera no Aeroporto de Zurique

Bom, chegamos até aqui — com algum atraso, é verdade, mas estamos aqui. O vôo deveria sair de Genebra às 15h35 e acabou saindo às 16h10. Mas cerca de 17h estávamos em Zurique, também coberta de neve. Nosso vôo para o Brasil está previsto para as 22h40. Assim, estamos aqui na Lounge da Star Alliance. Já experimentei um risoto milanês e um macarrão asiático (comi pouquinho), e estavam bons. Peguei uma Amarula para a Paloma, pois é uma das poucas bebidas alcoólicas de que ela gosta (além de vinho do Porto).

Ficamos pensando na série de coincidências (ou seria a Providentia Divina Specialissima?) que aconteceram antes. Nosso vôo de Genebra para cá seria às 21h. Mas teríamos de sair do hotel às 11h. Com custo consegui uma extensão de duas horas. À 1h saímos. Porque estava nevando, e as ruas estavam inandáveis, decidimos ir direto para o aeroporto. Pegamos um taxi.

Quando chegamos, o aeroporto estava um caos. Mas descobri um guichê de checkin para First Class, Business Class e Star Alliance Gold, sem ninguém. Fui lá e a moça disse que faria checkin antecipado, para que a gente se livrasse das malas. Como a Paloma havia ficado para trás guardando as malas, voltei, peguei a Paloma e as malas, e voltei para o guichê, driblando as inúmeras filas que perfilavam para atendimento nos guichês de atendimento normal.

Lá a moça com quem havia conversado nos passou para a atendente do lado, que era uma angolana, chamada Cindy (pelo menos esse era o nome de guerra no crachá) e que, ao ver os passaportes, nos atendeu em Português. Perguntou-nos se preferiríamos embarcar mais cedo para Zurique. Dissemos que sim. Ela nos informou que o vôo seguinte era o das 14h40, mas que estava lotado. Colocou-nos no seguinte, das 15h35.

Passamos pela a verificação de bagagem por uma entrada preferencial, sem fila, e fomos para a Star Alliance Gold Lounge. Poucos minutos depois, vimos no monitor que o vôo das 14h40 havia sido cancelado… Contei a história no post anterior.

O cancelamento do vôo das 14h40 não afetou o nosso, que começou a ser embarcado na hora certa. Só saiu com atraso porque foram necessários procedimentos de segurança como descongelamento dos flaps das asas, etc.

Fico me perguntando: por que essas coisas parecem dar sempre tão certo?

Agora estamos aqui na lounge do Aeroporto de Zurique, comendo, bebericando, mexendo na Internet (uma hora gratuita — depois, pagam-se 5 Francos Suíços por uma hora ou 9 Francos Suíços por 4 horas.

Espero que tudo continue a dar certo assim na etapa final da viagem. Estamos com saudades de casa, das meninas, dos parentes, dos amigos.

Vou parando por aqui. Acho que já disse tudo que tinha a dizer até agora. Depois de chegarmos em casa, darei um fechamento a este blog.

No Aeroporto de Zurique, 19 de Janeiro de 2013

Eduardo Chaves

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Vigésimo quarto dia: “Fecham-se as cortinas, termina o espetáculo”

A frase acima é, mais uma vez, do grande Fiori Gigliotti (o mesmo que dizia “O tempo passa!!!”, “Abrem-se as cortinas, começa o espetáculo: bola rolando no tapete verde do Pacaembu!”.

Hoje cedo, levantei-me às 6h, por aí. Não havia arrumado minha mala ainda. A Paloma, excepcionalmente mais disciplinada, arrumou as duas malas dela ontem (duas porque, uma era a que trouxe, a outra era a que trouxe por fora da primeira e está levando de volta, agora cheia, com as “comprinhas” dela.

Eu, de compras, só comprei uns livros (quatro ou cinco), um cartão de memória (de 32 GB — ganhei um de 64 GB da Paloma), e, na última hora, quando fui ao caixa eletrônico retirar uma graninha para os últimos momentos, um “Access Point” da CISCO, para estender o alcance de nossa rede local wifi (uifí, como eles a chamam aqui).

A Paloma se levantou por volta das 9h, depois de ela se acordar eu fiz minha mala, tudo coube direitinho no espaço usado na vinda, depois tomamos banho e nos arrumamos, eu pedi uma pequena extensão na hora do checkout, eu fui tirar um pouco de dinheiro, e, por volta das 13h, fizemos o checkout e chamamos um taxi (grande!).

O taxi  veio, uma perua da Toyota, coube tudo, sem problema, a corrida para o aeroporto ficou em 34 Francos Suíços, mais 2 Sfr por mala, total 40 Sfr, o aeroporto estava um caos, por causa da neve que cai sobre a Europa, que faz com que vôos sejam cancelados…

Espero que o nosso vôo não seja afetado. Dentro da Sala VIP da Star Alliance há tranquilidade, mas lá fora, gente sentada pelo chão, etc. Felizmente passamos batidos por tudo isso, com os cartões “Million Miler Flyer” da United…

O vôo para Zürich anterior ao nosso da Swiss acaba de ser cancelado… Nenhuma palavra sobre o nosso, que sai uma hora depois…  Respondendo à minha indagação, informa-me a recepcionista da sala que o vôo das 14h40 para Zürich foi cancelado porque o avião vinha de Londres e não pode sair de Londres por causa do mal tempo. O nosso vôo, das 15h35, vem de Zürich, e, por enquanto, parece que vai sair de lá sem problema em poucos minutos. A conferir. Vamos torcer, enquanto isso.

Eu já experimentei um Calvados e, agora, experimento um Rhum envelhecido… Para acompanhar, dois sanduichinhos de frango. A Paloma, para variar, tomou dois pratos de sopa…

Está chegando na hora de nosso vôo. Porque pode ser que eu precise fechar esse post rapidamente, vou termina-lo.

Tchau…

Obrigado a todos que nos acompanharam aqui e no Facebook.

Em Genebra, 19 de Janeiro de 2013

Eduardo Chaves

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Vigésimo terceiro dia: Compras no Balexert

Hoje, 18/1/2013, levantamo-nos tarde e, exceto por compras, não fizemos nada digno de nota. Nenhuma turistagem.

Fomos ao Shopping Balexert, que eu conheci muito tempo atrás como um shoppinho acanhado. Bem, foi ampliado e reformado, e ambas as coisas de forma drástica. Gostei muito de lá.

Além de várias lembrancinhas que a Paloma comprou, a coisa mais importante que adquirimos foi um microprojetor da Philips que projeta imagens de tv, dvi, computador, ipad, etc.

Mas foi suficiente para passarmos a tarde inteira lá.

Voltando, fomos ao Magasin Manor, para comprar mais umas coisinhas no supermercado.

A Paloma já arrumou as malas dela. Ela trouxe as coisas dela em uma mala dentro de uma maior. Comprou tanta coisa que agora volta com as duas malas cheias. Eu volto com o mesmo tanto de coisas que trouxe, exceto por uns livros (creio que quatro ou cinco) que a Paloma fez a gentileza de acomodar no malão dela…

É isso.

Amanhã, partimos de volta a casa. Saudades da casa, mas especialmente das meninas, da minha filha Patrícia e do meu neto Marcelo, do meu filho Rodrigo, de sua mulher Adriana, e dos meus netos Gabriela e Felipe, do meu neto Gabriel, dos meus irmãos, cunhados e sobrinhos, e da irmã da Paloma, de seu marido Fábio, dos filhos e da neta deles. E da Mary, do Maurício, do Bruno, do André e da Ana Beatriz, e da Rose, do André, da Letícia e do João Lucas.

Domingo estaremos aí, Deo volente. Amanhã talvez escreva mais, mas será  um dia tenso… Fico meio estressado em dia de viagem.

Em Genebra, 18 de Janeiro de 2013

Eduardo Chaves

 

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Vigésimo segundo dia: Mochileiros

Estamos, praticamente, na última etapa da nossa viagem. Nossa programação para esses últimos dias foi, talvez, a mais emocionante… Colocamos a mochila nas costas e saímos pela Europa em uma grande aventura de quase cinqüenta horas.

É verdade que somos uns mochileiros, digamos, meios sofisticados, pois só temos viajado em vagões de primeira classe (graças ao nosso passe Eurail), na maioria das vezes com assentos reservados, e dormimos em cabine dormitório exclusiva para duas pessoas no trem noturno… Mas, que viajamos apenas com duas mochilas nas costas, isso também é verdade!

Passamos por três países nesse período de cinqüenta horas: Suíça (de onde saímos), França e Itália.

Pela França, exploramos, pela segunda vez juntos, Paris. O Edu escreveu um artigo bastante detalhado dessa parte da viagem, por isso não me aterei a ele…

Saímos de lá ontem à noite e pegamos um trem noturno até Veneza, de onde estamos saindo agora, rumo a Genebra, novamente.

Incluímos Veneza em nosso roteiro meio de última hora. Teríamos uma semana inteira em Genebra, e eu queria aproveitar para conhecer mais algum um país. A Itália era o mais próximo, dentre os que eu ainda não conhecia.

Queria, ainda aproveitar o passe de trem e o fato de termos um local em Genebra onde poderíamos deixar nossas malas, afinal pegar trem carregados de malas é mais complicado.

Se eu fosse viajar só para a Itália, talvez não escolhesse Veneza como destino, mas sim, a Toscana, e no verão… (Isso é uma dica para o Edu sobre o próximo plano de viagem…) Mas, considerando que teríamos apenas algumas horas para explorar uma cidade italiana, considerei Veneza mais interessante do que Milão ou Florença, que foram as duas alternativas consideradas.

Primeiro porque Veneza é uma cidade bem menor do que as outras duas. Segundo porque desde criança eu ouço falar de Veneza, e acabei criando uma fantasia a respeito dela…

Os filmes e desenhos animados sempre mostram uma Veneza romântica, charmosa, com as gôndolas passeando pelos diversos canais (aliás, preciso registrar que sempre me lembro da propaganda do sorvete Corneto quando penso em Veneza…).

É verdade que depois de adulta ouvi algumas referências, digamos, não tão positivas acerca de Veneza. Essas referências falavam de uma cidade suja, velha e cheia de ratos… 😦

Felizmente minha veia romântica falou mais alto, e eu mantive uma expectativa positiva em relação a essa cidade que hoje tive a feliz oportunidade de conhecer…

Posso dizer, após passar algumas horas nela, que, talvez, haja um pouco de verdade em tudo o que eu ouvi falar previamente sobre a cidade…

A primeira impressão que tivemos, logo que chegamos, foi meio estranha. A estação principal de trem (Veneza Santa Lucia), está em obras. O dia estava meio cinzento. O chão da estação estava sujo e meio úmido. Não havia um saguão, um posto de informações da estação de trem, enfim, uma estrutura turística comparável à das outras cidades por onde passamos.

Deixamos nossas mochilas em um local próprio na estação, e já ficamos meio decepcionados com o preço (o dobro da Gare de Lyon, em Paris) e a qualidade, muito inferior à nossa referência anterior.

Havia um posto de informações turísticas onde fomos pedir informações sobre transporte para a Piazza San Marco. A atendente nos entregou uma folha “xerocada”, com algumas informações básicas e com um mapinha sem vergonha da ilha principal. Perguntamos se ela tinha um mapa melhor, como o que estava grudado no balcão dela, e ela disse que tinha para vender, por 2,50 Euros. Em nenhuma cidade precisamos comprar mapas durante toda a viagem. Sendo cidades turísticas, o mínimo que elas oferecem, patrocinadas pelos comerciantes locais, são mapas para os turistas escolherem onde vão gastar seu dinheiro. Mas não foi assim em Veneza…

Compramos um bilhete de ônibus (ônibus-barco, no caso), para chegarmos rapidamente à praça central. Depois exploraríamos a cidade a pé… Pensamos que o ônibus andaria pelo Gran Canal, onde poderíamos ter uma visão geral da cidade. Entretanto, o bendito fez a rota pelo lado contrário, passando por fora, pelo lado mais industrial da cidade. Passamos um frio de doer tentando fotografar tudo o que pudéssemos, e nos deparamos com uma paisagem meio sem graça, com apenas um ou outro prédio interessante… 😦

Enfim chegamos à estação San Marco. Não tínhamos muita certeza de como era a praça. Então, achamos que não estávamos nela… Na verdade a praça é dividida em duas partes, uma menor e outra maior, ambas conectadas, em L. Estávamos na parte menor, e por isso não percebemos. Vimos uma igreja em reforma ao final dessa praça menor, e havia uma fileira do que pareciam ser mesas baixinhas, algumas empilhadas, em frente a ela, mas pensamos que aquela era uma igreja muito pequena para ser a famosa Basílica de San Marco, toda revestida em ouro.

Relutamos um pouco em ir na direção dela, preferindo entrar em um prédio lateral bonito, no final do qual havia tapumes de obras (as cidades europeias, de um modo geral, estão sempre em obras nessa época do ano…). De repente percebemos certa movimentação de pessoas ao lado do prédio, atrás dos tapumes, em frente à tal igreja. Resolvemos ir até lá e, aí sim, percebemos que aquela era mesmo a Piazza San Marco, e aquela era a basílica.

A igreja, de fato, não é tão grande, tão alta, mas é muito diferente, enfeitada. As supostas mesinhas empilhadas, que pareciam restos de algum evento ou feirinha, para a nossa surpresa, eram passarelas improvisadas (que hoje estavam fora de uso), para os dias em que a praça fica inundada. Fiquei impressionada com as fotos que vimos nos tapumes das obras de contenção da água que eles estão fazendo em toda parte. Já tinha ouvido falar vagamente que Veneza estava correndo o risco de ficar debaixo d’água com o aumento do nível do mar Adriático. Constatei, chocada, que é verdade…

Freqüentemente, especialmente nessa época do ano, não apenas a praça, mas diversos pontos da cidade ficam alagados. Alguns imóveis já perderam os cômodos mais baixos. Tivemos a oportunidade de tirar algumas fotos de pontos alagados. Muito triste…

Mas, enfim, começamos a andar pelas ruazinhas do entorno da praça para procurar um Café. Àquela altura eu precisava tomar um chocolate quente urgentemente para voltar a me expressar oralmente… Minha boca queria falar, mas os músculos faciais estavam tão rijos com o frio, que não conseguiam mais se articular. Minha boca não me obedecia!

Tão logo começamos a fuçar essas vielinhas, eu comecei a me encantar com a cidade… Em cada bequinho, em cada pontezinha, uma surpresa… Uma lojinha, um restaurantezinho, uma casinha, um jardinzinho… Entre um bequinho e outro, os minúsculos canais escondiam barquinhas e as famosas gôndolas venezianas.

Infelizmente eu não tive coragem de andar em nenhuma delas, pois meia hora de passeio nos custaria a “bagatela” de 100 Euros! Quase 10 Reais por minuto foi muito para o meu bom senso. Me contentei em fotografar as gôndolas e passear a pé por entre as vielas e os canais… Tudo muito lindo!

Os prédios realmente são muito velhos… Não são apenas antigos, são velhos, mesmo, mal conservados, caindo aos pedaços. Mas, por incrível que pareça, isso acrescenta um charme adicional à paisagem. Não sei explicar direito. Só vendo para entender…

Em alguns momentos, a paisagem chega a ser parecida com algumas vielas de Paraisópolis. A diferença é que em Veneza o reboque dos prédios caiu. Em Paraisópolis ele nem chegou a ser feito…

As roupas penduradas nos varais remetem à paisagem do centro velho de Portugal. Mas o conjunto da obra é um charme. Foi a cidade europeia por onde passamos, onde eu mais tirei fotos! Dá vontade de registrar cada pedacinho dela.

Passamos em uma feira muitíssimo parecida com as nossas feiras livres de São Paulo. Ficamos pensando, será que as nossas feiras são herança italiana? Parecem…

Aliás, em vários momentos vi similaridade entre Veneza e São Paulo, especialmente na alimentação farta, a forma meio barulhenta, bem humorada, às vezes meio espalhafatosa das pessoas. Isso sem contar a desorganização do espaço, algumas pichações em monumentos importantes, enfim, acho que temos mesmo muito dos italianos em São Paulo…

Outra característica positiva, conforme eu acabei de mencionar, é que se come muito bem em Veneza. Eu havia lido em algum Blog que a comida lá era muito cara. Não que seja barato, mas, se comparado a Genebra, Paris, Budapeste e Praga, sem dúvida é um lugar onde não se gasta tanto para comer. E há fartura e sabor na comida. Nem é preciso dizer que há muita massa lá, de todos os tipos…

As lojinhas de souvenirs também são das mais baratinhas, se compararmos com as outras cidades por onde andamos. Há lembrancinhas a partir 60 ou 70 centavos de Euro. Pena que estávamos com pouco espaço nas mochilas pequenas, senão eu teria trazido umas tralhas para dar de presente aos amigos… (Amigas, na verdade… Os amigos, por alguma razão, não costumam gostar muito de tralhas…)

Entramos na basílica, mas não pudemos fotografar. Ela é realmente toda revestida de ouro. É muito diferente, colorida, possui uma organização interna diferente da maioria. Não é tão grande, mas tem seu charme, apesar de eu não gostar muito da ostentação dessas igrejas, especialmente das que são revestidas de ouro…

[PC, em 18/1/2013: Transcrevo, aqui, por sua relevância, um trecho do comentário feito no Facebook, por minha amiga Simone Segala, que também esteve na Basílica de San Marco, e trouxe informações muito mais precisas, que, inclusive, corrigem informações errôneas que eu havia passado sobre a igreja:  “… Só um detalhe que me fez gostar muito da Basílica de Sao Marcos é que ela não é revestida de ouro, mas,toda feita em mosaico dourado, desde o teto até o chão. Não sei se vocês perceberam, mas o chão está todo ondulado, devido as enchentes e por ser todo em mosaico, ficou mais fragilizado. Achei essa arquitetura muito bacana e foi herança das influências muçulmanas, por isso não tem aspecto de igreja católica e é ornamentada em mosaico”]

Enfim, foi um dia maravilhoso! E eu não vi nenhum rato, felizmente…

Nossa viagem está chegando ao fim… Fico muito feliz por estarmos fechando esse ciclo com essa experiência bacana de passear como mochileiros pela Europa.

Agora estamos a uma hora de chegar em Genebra. Sao 22h20 (19h20 no Brasil), e o Edu está cochilando confortavelmente no banco ao lado.

Espero conseguir publicar esse artigo, junto com o outro, sobre o passeio aos Alpes suíços, ainda hoje.

Passando por Montreux, no trem a caminho de Genebra, 17 de Janeiro, de 2013.

Paloma Chaves

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Vigésimo segundo dia: Veneza

Estou escrevendo no trem que volta de Veneza (Santa Lucia) para Genebra (Cornavin). Um trem suíço, desta vez, muito bom. Estamos chegando à estação central de Milão. Saímos às 16h20 e chegaremos em Genebra às 23h20, sete horas depois. Agora, 19h, estamos chegando a Milão, já tendo passado por Venezia Mestre, Padova, Vicenza, Verona Nuova Porta, Peschiera del Garda, e Brescia. Depois dou as estações de Milano Centrale em diante.

[EC, em 18/1/2013: As estações seguintes à de Milão foram: Gallarate, Domodossola, Brig, Sion, Montreux e Lausanne. Brig foi a primeira estação em solo suíço.]

Nosso trem de Paris para Veneza acabou chegando na hora: 9h30 da manhã, apesar do pequeno atraso ao partir e das várias paradas sem explicação ao longo da viagem.

Chegando em Veneza, deixei as coisas na mão da Paloma, que havia estudado o mapa e até mesmo parte da história da cidade, e sabia o que devia ser visto por quem só podia ficar um dia na cidade. Ela estava (e continua) tão entusiasmada com a viagem que nem o frio terrível que enfrentamos na cidade conseguiu esfria-la. O tempo, que havia sido prognosticado como chuvoso, não parecia trazer chuva e até o sol chegou a mostrar a cara. Mas fazia frio e ventava.

Vou deixar que a Paloma mesma conte a história de nosso dia em Veneza.

Aqui no trem, já estamos perto de entrar em território suiço. São 20h15. Fiquei sem escrever durante quase uma hora, conversando com a Paloma sobre Ayn Rand, minha filósofa e romancista favorita.

Como disse, o trem deve chegar a Genebra daqui três horas, às 23h20.

Em trânsito entre Veneza e Genebra, 17 de Janeiro de 2013.

Eduardo Chaves

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Fim do vigésimo primeiro e começo do vigésimo segundo dia: Paris e o trem para Veneza

São 3h30 do dia 17/1, quinta-feira, e eu infalivelmente acordei. Pudera, fomos dormir era mais ou menos 22h30, ontem, em nosso compartimento dormitório no trem EN (European Night) 221, Paris – Venezia (Santa Lucia). A Paloma continua a dormir pesadamente no cama de cima, que ela escolheu sem me dar muita opção. O trem saiu ontem de Paris (Gare de Lyon) às 20h07, com oito minutos de atraso em relação à hora de partida prevista: 19h59. Por que se escolhem horas de partida como 19h59 (em vez de, por exemplo, 20h) é algo que tenho muita dificuldade em entender. Estamos rodando, portanto, há cerca de sete horas e meia. A viagem total dura 13 horas e meia, por aí. Isso quer dizer que ainda temos cerca de seis horas para curtir a experiência. Como já disse, a Paloma nunca havia andado em compartimento dormitório de um “wagon lit” (vagão leito). (Quando eu trabalhava na UNICAMP, no que me parece ter sido uma outra vida [uma encarnação anterior?], da qual eu, de vez em quando, tenho vagas lembranças, a gente lidava com uma agência de turismo chamada Wagon-Lit, com sede em São Paulo, para fazer reservas de vôos internacionais. Nunca mais vi referência a ela).

Não sei bem se narro o dia de ontem em ordem cronológica normal ou se o faço de trás para frente, já que comecei falando de agora e da partida do trem, ontem à noite. Vou tentar começar em ordem normal e chegar até ontem à noite. Acho que fica mais fácil de entender.

Parei o post anterior quando estávamos para chegar a Paris. Chegamos direitinho, com meia hora de atraso (já mencionado no post anterior). Não se fazem mais estradas de ferro como a antiga Companhia Paulista, cujos trens, ao passar, serviam para as pessoas acertarem os seus relogiões de parede em casa…

A Gare de Lyon é um labirinto, ainda mais porque é quase emendada, nos níveis subterrâneos, com a Gare de Bercy e a Gare de Austerlitz, para não mencionar algumas estações de metrô e pontos finais de linhas de ônibus.

Nossa primeira providência foi verificar a existência de um Guarda-Bagagem, desses automáticos, em que você põe umas moedas e deixa suas tralhas lá — no caso, nossas duas mochilas. Perguntei à atendente de um guichê de informações e ela nos apontou a direção. Começamos o que pareceu uma interminável caminhada mal-orientada por placas de indicação. Estávamos no andar de baixo em relação ao andar em que estavam as plataformas dos trens. Mas havia mais andares abaixo. De vez em quando encontrávamos uma indicação assim ↓ (flecha virada para baixo). Isso queria dizer que era para continuarmos em frente ou que era para descermos para o andar de baixo? Para mim é a segunda opção. Se fosse para continuar em frente, eu teria preferido usar a indicação ↑ (flecha para cima). Mas no caso eu estaria errado. Mesmo assim, finalmente achamos o serviço de “Consigne” (mesma raiz de “Consignação”) que procurávamos. O preço era 5,50 Euros por um espaço que acomodaria nossas duas mochilas, segundo a moça do guichê de atendimento. A gente mesmo pagaria, com moedas, ao fechar o espaço. (Deve haver um termo mais preciso  em Português do que apenas o genérico “espaço”, como é o caso de “locker”, em Inglês, mas não consigo me lembrar dele). Para entrar na área dos ditos espaços, a bagagem teve de ser escaneada em um aparelho como aqueles de aeroporto e tivemos de tirar tudo de metal que tínhamos nos bolsos, celulares, eletrônicos em geral, etc. Uma vez dentro, finalmente encontramos um espaço vazio que nos pareceu conveniente, no alto, número 43E. Escolhi o 43 por ser o ano de meu nascimento e o E por ser a inicial do meu primeiro nome… Assim seria mais fácil lembrar… 🙂 Lemos as instruções, colocamos as mochilas lá, fechamos a porta, e colocamos no local indicado os 5,50 Euros. A porta se trancou automaticamente e o sistema emitiu um bilhete que nos permitiria abrir a porta ao voltarmos. Os 5,50 Euros valeriam por 24h. Passado esse tempo, teríamos de pagar outro tanto para retirar as mochilas.

Bem, problema número um resolvido.

Segundo problema, localizar um banheiro. Achamos um, longe dali, e, para entrar, tínhamos de pagar 0,50 Euros por cabeça. Pagamos. Segundo problema resolvido.

Terceiro problema (que se desdobrou em vários subproblemas): achar um mapa da cidade e partir rumo à Torre Eiffel. Já passava das 11h15.

A atendente de um outro guichê de informações nos deu um mapa detalhado do centro expandido de Paris, e vimos que estávamos bem longe da torre. A Gare de Lyon fica a leste do miolo circunscrito em três lados (Norte, Leste e Oeste) pelo Sena, já fora do miolo, e a Tour Eiffel a oeste, dentro do miolo. Em ambos os casos as construções estão basicamente do lado do Sena. Ir a pé, com nossas limitações de tempo, não era viável, embora fosse meu desejo: envolvia atravessar todo o miolo da cidade, algo que não se faz, andando, em menos de duas horas. Alternativas: taxi, metrô ou ônibus. A Paloma optou pelo metrô. Nosso mapa tinha um esquema das linhas do metrô. A Paloma adora esses esquemas: para ela aquilo é um quebra-cabeça que a diverte tanto quando os joguinhos de computador de que ela gosta tanto… Ela logo descobriu que a Linha 6, que passava mais ou menos perto da Gare de Lyon, nos levaria até lá, sem baldeação. Problema: onde havia, na vizinhança da Gare, uma estação do metrô em que essa linha passa? Víamos uma indicação do metrô, mas nessa estação passava apenas a Linha 14…

Eu queria perguntar e a Paloma queria descobrir… E, como dizia o Fiori Gigliotti, “o tempo passava…”.

Finalmente resolvi (contra a vontade da Paloma) perguntar noutro guichê (ou seria o mesmo da mulher que me deu o mapa?) e ela nos disse, peremptoriamente, que a melhor opção seria pegar o Ônibus 63, destino Porte de Muette, cujo ponto final poderíamos encontrar andando reto até o fim da estação e virando à direita na rua. Deveríamos descer na parada Trocadero.

A Paloma ficou um pouco magoada por eu ter meio (?) unilateralmente resolvido ir de ônibus, argumentando que havíamos aberto (gostaria que fosse abrido) mão de nosso poder de escolha e decisão para seguir a decisão da mulher do guichê… Faire quoi? O problema tem semelhança com o problema pedagógico colocado pelas pedagogias não-diretivas: aprendizagem por descoberta ou aprendizagem baseada na instrução? Em princípio a aprendizagem por descoberta, outras coisas sendo iguais (et ceteris paribus), é preferível, não tenho dúvida. Mas ela, muitas vezes, exige mais tempo…

Enfim!

Fomos até o local indicado, havia um ônibus da Linha 63 parado (era ponto final da Linha, no outro extremo da Porte de Muette), e precisamos descobrir onde e como comprar os bilhetes. Perguntei para um senhor (ia dizer um velho, mas me dei conta de que ele devia ter mais ou menos a minha idade, por isso optei pela forma de referência usada, mais “nobilificante”). Achamos uma máquina de bilhetagem perto, que nos permitia comprar bilhetes para o metrô, para os trens metropolitanos e para os ônibus. Só que ela tinha uma interface meio estranha: uma tela que era operada através de um rolinho de alumínio (parecido com um mini-rolo de macarrão) que ficava abaixo dela e que permitia que a gente navegasse pelas opções dessa tela no plano vertical. Uma passagem individual, 1,70 Euros. Escolhemos duas: total, 3,40 Euros. Não tínhamos moedas suficientes (porque eu não quis trocar notas em moedas na Consigne, como a Paloma sugeriu… o ambiente mais uma vez ameaçava ficar tenso!). Paguei então com o Cartão de Crédito VISA do Itaú Personnalité. Tomamos o ônibus, sentamo-nos, abrimos nosso mapa, o ônibus logo saiu e fomos acompanhando o trajeto percorrido no mapa.

O ônibus saiu da Gare de Lyon, que fica na parte Leste do centro expandido, para trás do Sena (para quem está do lado do Sena em que ficam o Pantheon, a sede da Sorbonne, o Jardim de Luxemburgo, Saint Germain des Prés, l’Assemblée Nationale, Les Invalides, a Torre Eiffel, etc.). Ele logo passou para esse lado pela Ponte de Austerlitz e foi em frente, fazendo um trajeto típico de ônibus: nunca indo reto quando é possível dar uma voltinha e recolher mais passageiros… (“E o tempo passa!” Que sábio era o Fiori Gigliotti…). Passamos pelos lugares indicados e, quando estávamos vendo a torre de uma forma que parecia bem de perto, descemos.

Não era tão perto assim (“Eu falei que era melhor descer no Trocadero”, disse a Paloma…  E havia falado mesmo. Mas o Trocadero ficava de novo do outro lado do Sena… Por isso sugeri que descêssemos antes). Mas chegamos lá. Era mais de meio dia.

Chegou a hora da grande decepção do dia: os elevadores da torre não estavam operando, porque havia gelo no topo da torre. Havia perspectiva de que voltassem a funcionar?, perguntei. Não temos ideia, foi a resposta. Mas pode ser que abram mais tarde? Talvez sim, talvez não…

O que fazer? Enquanto discutíamos uma solução para o que fazer, fomos caminhando até a margem do Sena e ali vimos excursões de barco (Bâteau Mouche — ah, Rio de Janeiro… Em que ano foi que o Bâteau Mouche afundou nas águas da Baía da Guanabara?). Mas vimos também um “Bâteau-Bus”, um barco que operava como ônibus, percorrendo o Sena, dali da torre, até o Jardin des Plantes (a variedade de Jardim Botânico deles?), já pertinho da Gare de Lyon, pela lado da margem esquerda do rio, voltando pelo lado oposto, fazendo ao todo oito paradas: Tour Eiffel, Musée d’Orsay, Saint-Germain des Près, Notre Dame, Jardin des Plantes, na ida, e Hôtel de Ville, Louvre, e Champs-Elysées, do outro lado, na volta. Pareceu-nos legal: uniríamos o útil ao agradável, descendo no Louvre para ir às Galeries Lafayette, voltando e pegando o Bâteau-Bus de novo para voltar até a Torre Eiffel para checar se já estava aberta. Pagamos os 15 Euros por pessoa, com direito de entrar e sair quantas vezes quiséssemos durante um dia. Imaginamos até que, próximo das 18h, ainda poderíamos tomar o Bâteau-Bus para ir de volta para a Gare de Lyon, sem ter de pagar mais nada. (O serviço fechava às 19h).

O barco chegou dali uns 10 minutos (bonito barco, com os lados e a parte superior de plástico ou acrílico transparente). Entramos, e começamos a ficar preocupados. Ali era o ponto final/inicial e o barco demorou pelo menos uns 15 minutos mais para sair… (“E o tempo passa!”). Perguntei quanto tempo levaria para chegar à estação Louvre, nosso destino original, e o comandante disse uma hora…  😦  Diante disso, revisão de planos. Resolvemos fazer o percurso inteiro, para aproveitar bem os 30 Euros, voltar à torre, verificar se ela estava aberta, e, depois, em qualquer hipótese, decidir o que fazer…

O percurso foi lindo. Tiramos fotos maravilhosas de todo o centrinho margeando o Sena. Mas levou cerca de uma hora e meia ou mais.

Voltamos à torre. Ainda fechada. Como já passava de 14h30 e escureceria antes das 17h, resolvemos deixar a subida da torre para uma outra ocasião. Pegamos um taxi (agora sem objeções maiores) e rumamos para as Galeries Lafayette. Dez Euros a corrida, incluído um arredondamento de 10% à guisa de gorjeta, que em Francês se chama “pourboire” (literalmente, “para beber”). (Em Inglês, o termo mais nobre é “gratuity”, mas geralmente as pessoas comuns usam o termo “tip”).

[Voltando ao presente, me dou conta que esse raio de trem está parado há quase meia hora, não sei onde. De volta para o passado].

Nas galerias, tomamos um lanche (sopa, pão, vinho, suco de laranja) e a Paloma foi à luta. Eu resolvi ficar na seção de livraria, no sexto andar. Combinamos nos reencontrar lá em 90 minutos (ou seja, por volta das 16h30).

Olhei as várias estantes de livros, parei na área de Sciences Humaines, que ali parecia ser um termo genérico que incluía as diversas Ciências Sociais, a Psicologia, a Filosofia, a Teologia, o Oculto… Peguei para olhar (skim, browse) um livro de Jeffrey Rifkin e outro que era uma biografia de Carl Jung, sentei-me numa cadeira para fazê-lo e comecei a ler. Olhei o de Rifkin, achei coisas interessantes mas parei de olhar quando encontrei uma entrevista do autor com o ex-primeiro ministro Zapatero da Espanha, em que ambos concordavam com a tese de que a Espanha estava se tornando o segundo carro-chefe da Europa, atrás apenas da Alemanha. Uns poucos anos de perspectiva nos ajudam ver que essa tese era um erro colossal. Deixei o livro de lado e passei a folhear a biografia de Jung quando… fui acordado pela Paloma! Eu havia cochilado… Ela voltou cerca de meia hora antes do combinado. Não havia achado o que queria pelo preço que esperava: as “liquis”, como ela as chama, não estavam tão promissoras nas lojas da Lafayette como as da Harrod’s em Londres…

Mas ela havia visto uma H&M do lado… Fomos para lá. A loja estava horrivelmente quente para o gosto de um calorento usando camiseta, uma camisa meio grossa de manga comprida, uma jaqueta de nylon da Ping, presente da Microsoft, e um sobretudo… Por isso combinamos  que eu ficaria de fora, ali nas cercanias, e que nos encontraríamos em meia hora na porta. Dei uma rodadinha até perto de L’Opera, voltei, e na hora combinada a Paloma voltou, sem ter terminado de fazer suas compras. Na loja havia parte do que ela queria por um preço bom (roupas para as meninas, para o nenê da Mary Grace, etc.). Combinamos marcar novo encontro para dali mais vinte minutos. Quando voltei, ela apareceu, dizendo que só faltava pagar. Dali uns 5 minutos ela retornou para pedir o passaporte dela que estava em meu bolso, porque a caixa havia pedido o passaporte quando ela deu o Cartão de Crédito do HSBC para pagar… Foi a primeira (e única) vez que uma loja pediu passaporte para conferir o nome no Cartão de Crédito.

De lá a Paloma ainda quis ir para a GAP, no Boulevard des Capucines, perto dali, que havíamos visto no trajeto de taxi. Rumamos para lá — embora eu, mineiramente apressado que sou, já preferisse ir direto para a Gare de Lyon…

Mais uns 30 a 45 minutos na GAP e saímos (ali não pediram o passaporte dela) com uma segunda sacola cheia de compras…

Pegamos um taxi em direção à Gare de Lyon, e o motorista, um sujeito nervoso, que dava umas porradas na direção no tráfego infernal do centro de Paris às 18h e pouco, me pareceu usar um trajeto longo demais… Creio que fomos enganados. Ainda preciso verificar depois no mapa. [EC, 17/1/2013: O mapa mostra um possível caminho, que eu conhecia, que tem 2/3 da extensão do trajeto escolhido pelo motorista.] A tarifa ficou em 19 Euros e 20 centavos (“centîmes”). Pagamos. Não era hora de brigar com taxista parisiense.

Entramos no prédio. Parecia totalmente diferente da estação da qual havíamos saído às 11h. Como eu não havia visto nenhuma inscrição, placa ou sinal luminoso dizendo GARE DE LYON, perguntei a um lojista se ali era mesmo a Gare de Lyon. Ele respondeu “Bien sûre!!!” e me olhou assim com cara de quem estava me achando louco.

Começamos a investigar o lugar para tentar fazer sentido de onde estávamos. Afinal de contas, precisávamos achar a Consigne onde estavam nossas mochilas, e já passava das 18h45…

Finalmente a Paloma descobriu que a estação contém três halls (criativamente chamados de Hall 1, Hall 2 e Hall 3). Estávamos no Hall 1, o velho. Quem sabe havíamos chegado, às 10h30, no Hall 2 ou no Hall 3? Fomos procurar e, felizmente, descobrimos que havíamos chegado mesmo no Hall 2. Lá achamos a nossa rampa para o andar de baixo (Hall 3) e localizamos o caminho da Consigne. Na Consigne, encontramos nossas mochilas intocadas. Fantástica a tecnologia. Só colocamos o ticket no slot do conjunto de seis lockers e nossa porta 43E abriu maciamente (embora aquele slot controlasse seis portas (43 A a F). How do they do it?

Problema: caberia o conteúdo das duas sacolas de compras da Paloma dentro da mochila dela (que estava vazia), como ela havia previsto? Não coube. Ela se dispôs carregar uma sacola pelas próximas 30 horas, inclusive em Veneza, com o que não havia cabido (um dia isso ainda vai virar couberto). Cavalheiresticamente, eu não disse “I told you so” (ou “I hate to say I told you so, but I told you so”) e ainda lhe ofereci para tentar acomodar o excedente na minha mochila. Coube. (Deveria ser cabeu).

Em seguida fomos procurar a plataforma do nosso trem. Ainda faltavam uns 45 ou 50 minutos para a hora da partida e o número do trem nem aparecia nos monitores, mas estava perto (a lista de trens a partir chegava até 19h53 e o nosso partiria às 19h59 — não sei por que essa gente… acho que já disse isso atrás). Finalmente o nosso apareceu, mas apenas com a indicação de Hall 3. Perguntei num guichê de informações o que isso significava e a resposta foi que devíamos nos encaminhar para o Hall 3 e esperar lá. Descobrimos que o Hall 3 era apenas um enorme Hall de espera, onde, na realidade, já estávamos. Logo apareceu a indicação de que o nosso Hall seria o 2. Fomos para lá. Mais tarde ainda, a informação foi alterada para Hall 1, e, finalmente, por volta das 19h35, para Plataforma J, que felizmente ficava no Hall 1, onde já estávamos. (Descobrimos também que não havia Plataformas 1 a 4, nem Plataforma B, nem Plataforma G… Por quê?).

Fomos para a Plataforma J. Um caos. Um monte de italianos e turistas correndo desordenadamente para lá. Demos de cara com o trem: velho, terrivelmente velho, feio…  nada parecido com os modernos e lindos  TGVs ou RailJets. Nosso vagão dormitório era o de número 94. Quando o achamos, fomos informados pelo chefe do vagão que a porta estava “rota” (quebrada) e que teríamos de entrar pelo vagão 93… Foi o que fizemos. Conferiram nosso bilhete-reserva, entramos, e localizamos nosso compartimento.

Sinceramente, fiquei decepcionado. Tudo velho, num estilo ultrapassado, nada funcionando muito bem. Welcome to Italy away from Italy, pensei eu cá com os meus botões… Acho que até cheguei a dizer algo equivalente para a Paloma, que estava bastante entusiasmadinha, explorando as novidades… Para que ela não ficasse triste, procurei esconder meu desapontamento com a cabine dormitório, mas fui meio incompetente ao tentar fazer isso. Vi que ela começou a ficar triste porque eu não estava muito contente com o nosso trem. Conversamos um pouco sobre isso, acertamos os ponteiros, e ela voltou à sua exploração do  nosso espaço como se fosse uma criança numa loja de brinquedos que visitava pela primeira vez.

Na cabine ao lado, brasileiros: dois homens, um mais velho e outro mais moço, e uma mulher jovem. Sem especulações.

No nosso compartimento havia um sofá com três lugares, que virava uma cama de solteiro. As duas outras camas não estavam montadas e muito menos arrumadas. O aquecimento não estava funcionando nem no nosso compartimento nem no vizinho (e estava frio, creio que abaixo de zero). Chamamos o chefe do  vagão, ele disse que mais tarde voltaria para arrumar as camas e que iria dar uma olhada no problema do aquecimento. Sotaque Italiano. Com os vizinhos, falou em espanhol. Comigo, em Inglês. Não falava nem um dos dois bem — nem o Francês tampouco.

Dali a pouco o dito cujo voltou para verificar os bilhetes e, estranhamente, nos pediu os passaportes e disse que ficaria com eles até o dia seguinte (hoje) cedo. Perguntei a ele por que e ele respondeu que, como o trem iria atravessar a Suiça, e a Suiça não faz parte da União Europeia, ele precisaria ficar com os passaportes para a eventualidade de as autoridades suiças quererem verifica-los. Caso contrário ele teria de nos acordar no meio da noite, atrasando o processo de fiscalização. Como os vizinhos também haviam entregues seus passaportes (eles são de Cotia, na Grande São Paulo), resolvi não objetar.

O chefe do vagão nos deu tickets para Welcome Drinks, para o Café da Manhã do dia seguinte (incluso no bilhete) e disse que o Vagão Restaurante estava aberto para jantar.

Resolvemos ir até o restaurante beber o nosso Welcome Drink (champagne) e comer algo. O chefe do vagão teve de trancar a cabine da gente por fora, porque nenhum passageiro recebe  uma chave externa de sua cabine, que lhe permita tranca-la por fora.

No vagão restaurante, mais uma vez, tudo bagunçado, Italian style (sorry, italianos). A garçonete não sabia quais eram os ingredientes dos pratos, tinha de voltar e perguntar, etc. Gente passando com mala, que aparentemente entrou no trem, na última hora, no vagão errado, e tinha de localizar seu assento ou sua cabine. Escolhemos um peito de frango com molho e purê de batatas. Prato mais caro do menu: 16 Euros. Quando os pratos chegaram, vieram com arroz e não purê de batatas, sem aviso ou explicação. Pedi uma Heineken e atacamos a comida. Pelo menos o gosto estava muito bom. Talvez fosse a fome.

Voltamos para a cabine. Ninguém pelo corredor, e nada do chefe de vagão… Procurei nos vagões anexos e nada. Por fim vimos um compartimento meio triangular, no fim de nosso vagão, e dei uma batidinha na porta. Era lá que ele se escondia. Pedimos para abrir nossa porta e ele o fez. Surprise! O quarto estava todo arrumado: as camas de baixo e do meio estavam montadas e arrumadas, com lençol de embutir justinho, acolchoado, travesseiros, tudo nos trinques. E o aquecimento estava funcionando. A aparência da cabine se alterou e o nosso mood também.

Na cabine há um lavatório, escondido atrás de umas portinhas arredondadas, um espelho relativamente grande, três ganchos com cabides para pendurar roupas, dois maleiros, e espaço para uma terceira cama, que pode ser aberta lá em cima, quase no teto da cabine… (Por isso nossos vizinhos estão os três numa só cabine). Há controles de temperatura (ar refrigerado e quente), tomadas, interruptores para luz de teto e luz de penumbra, luz de leitura para cada cama, local para colocar copo ou garrafa em cada cama, etc. Descrevendo isso até parece que a coisa é chique. Não é: tudo é velho, mas aparentemente ainda em estado aceitável de funcionamento.

Como eu já disse, a Paloma escolheu dormir em cima. Tirei uma foto dela sentada (quase disse empoleirada, mas felizmente me contive…) na cama de cima e ela tirou uma foto minha deitado na cama de baixo. Quando vi a foto que ela tirou de mim achei que eu estava parecendo um defunto no caixão e pedi para ela tirar outra foto, comigo deitado de lado. Ficou bem melhor. Pelo menos pareço vivo — só dormindo (embora stivesse apenas fazendo de conta).

A Paloma foi ao banheiro (eu havia ido na volta do carro restaurante). Depois, trancamos a cabine por dentro, tiramos o excesso de roupa, e resolvemos dormir. Eu dormi logo. Acredito que ela também.

Na realidade, voltando ao presente, a Paloma acabou de acordar agora, quase 5h30 da manhã. Conversamos um pouco, mas acho que ela voltou a dormir.

Reconheço que este relato está extremamente detalhado e longo — já está na página sete. E terei de dar à Paloma o direito de censura, antes de publica-lo, o que acontecerá, possivelmente, apenas hoje à noite, quando estivermos de volta a Genebra, pois, diferentemente dos trens austríacos, nada de WiFi aqui.

É isso. Ainda temos pelo menos quatro horas de viagem, se não houver atraso. Suspeito que haverá um atraso, talvez até considerável.

Vou ver se cochilo mais um pouco… Inté.

[Paloma: Imprimatur até aqui. 8h30 da manhã do dia 17/1/2013].

9h30 da manhã. Deveríamos estar chegando agora, mas parece que estamos muito atrasados. Perguntei ao chefe do vagão se tínhamos atraso e ele disse, com má vontade, que achava que uns vinte minutos.

Já tomamos café (chocolate, suco de laranja, croissant e apple sauce). Básico. Foi gentileza do trem.

A Paloma, que estava conversando com os vizinhos, disse que a próxima estação já é Veneza (Santa Lúcia).

Os vizinhos também disseram que, lá pelas 4h da manhã, o trem ficou parado uns 40 minutos, e um policial com cão farejador entrou na cabine deles, revirou tudo, o cachorro cheirou tudo, conferiu os passaportes com a cara deles e com os bilhetes, etc. Achei estranho, porque conosco nem bateram na porta.

Mas me lembrei de que às cinco horas, mais ou menos, quando fui ao banheiro, encontrei um policial italiano, mas foi simpático, apenas sorriu e passou.

Voltando a ontem, uma coisa que nos assustou em Paris, ontem, na estação, foi a presença de vários militares ostensivamente armados com metralhadoras, prontos para atirar. Esquisitíssimo.

Parando. Desta vez concluindo o post.

No trem de Paris a Veneza, 17 de Janeiro de 2013

Eduardo Chaves

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Vigésimo primeiro dia: Viagem para Paris no TGV Leiria

6h24 da manhã do dia 16/1/2013, e o trem TGV com destino a Paris, Gare de Lyon, acaba de partir de Lausanne. Chegamos a Lausanne às 6h12, procedentes de Genebra, de onde saímos às 5h33. Saímos do nosso apartamento às 5h, para andar os três quarteirões que nos levavam à estação de trem (Gare Cornavin). Noite escura. Não havia viva alma na rua, exceto dois taxistas e um sujeito parado com uma cara meio suspeita, perto do hotel. Como bons brasileiros, ficamos espertos, atravessamos à rua e monitoramos o cara que estava parado… Mas nada de mais aconteceu.  Não encontramos mais ninguém, nem a pé, nem de carro, até entrar na estação.

Bom, felizmente tudo deu certo e estamos no TGV, que, tendo saído de Lausanne às 6h24, deve chegar a Paris às 10h03, quase 3h40 depois.

Há um TGV que sai de Genebra para Paris, via Lyon, e que leva basicamente 3h. Mas não havia lugar de primeira classe nele. Optamos, portanto, para ir até Lausanne, que fica mais distante de Paris do que Genebra, e pegar o TGV de lá, que segue uma outra rota e leva quase 40 minutos mais de tempo — e que é chamado de TGV Leiria.

A última vez em que estivemos em Paris, a Paloma e eu, foi no final de 2008, comecinho de 2009. Passamos em Paris nosso primeiro réveillon juntos, ao redor da Tour Eiffel. Chegamos logo depois do Natal e ficamos até o dia primeiro do ano, quando nos dirigimos (também por TGV) a Zurique e, de lá, a Winterthur, terra dos antepassados da Paloma pelo lado materno: os avós da mãe dela, tanto o avô como a avó, vieram da Suiça. Daí o sobrenome “Epprecht”.

Naquela ocasião não subimos até o alto da Tour Eiffel. Desta vez queremos faze-lo. Esse é o único plano que temos para nossa estada de mais ou menos oito horas na cidade — exceto, evidentemente, no que diz respeito às andanças pelas “lojinhas”, especialmente as Galeries Lafayette (que não são propriamente uma lojinha).

Acabaram de servir um desjejum (pétit déjeuner) composto de croissant, pão normal (o que na minha infância se chamava de “pão de água”, por alguma razão que desconheço, e que se contrapunha ao chamado “pão sovado”), manteiga, geléia, iogurte, café com leite e suco de laranja. É uma cortesia da primeira classe (tipo cortesia, como disse a Paloma: a reserva de assentos nos trens normais, em geral opcional, exceto nos trens noturnos de longo percurso, custa 4 Francos Suíços, e aqui no TGV, em que é obrigatória, custa 33 Francos Suíços – sempre por pessoa). A “trilhomoça” usa um carrinho semelhante ao que as “aeromoças” usam nos aviões… (sei que minha terminologia aqui está ultrapassada, mas fica assim mesmo).

O trem não parece estar andando tão depressa como de fato está. E, em alguns aspectos, é menos sofisticado do que o RailJet austríaco que usamos de Linz a Budapest, de Budapest a Salzburg e de Salzburg a Zürich. O RailJet tem (como os aviões) monitores que indicam no mapa o trajeto que está sendo percorrido, que mostram a velocidade, e dão outras informações (sobre paradas, horário previsto de chegada, etc.). E tem a Internet a bordo, gratuita, em todo o trajeto (embora, na nossa experiência, meio instável).

Agora o trem parou, sem nenhuma explicação… A Paloma e eu somos meio traumatizados com isso. Como já disse em um post anterior, quando fomos de Paris a Zürich, o nosso TGV atropelou e matou uma pessoa, cerca de dez minutos depois da saída da estação, ainda dentro do perímetro urbano de Paris. Ficamos parados três horas, esperando a polícia chegar, examinar a cena, cumprir toda a burocracia prevista para caso de acidentes com vítimas, no caso fatais. Mas o nosso TGV aqui voltou a andar, mas terá de tentar descontar um bom atraso.

A Paloma está escrevendo, no iPad dela, um post sobre nossa viagem ao Jungfrau, que ela havia prometido escrever (ou, como ela reclamou, que eu havia prometido que ela escreveria…) Não sei como ela consegue escrever tão rapidamente no iPad (e no iPhone). Acho que é uma questão geracional. Embora ela não possa ser considerada uma nativa digital, nasceu mais perto do início da popularização da tecnologia digital do que eu, que nasci definitivamente antes da era digital… A Bianca e a Priscilla, estas sim, são nativas digitais. Não usam e-mail, por exemplo, que a Paloma ainda usa intensamente. Só usam mensagens de texto e chamadas de voz. E procuram tudo no Google, pelo telefone. É interessante observar a convivência de três gerações bem distintas: uma pré-digital (pré-ENIAC, pré-computador de grande porte), mas que tentou se digitalizar o melhor possível; a outra que nasceu às vésperas da explosão digital que aconteceu com o aparecimento dos microcomputadores; e a terceira, que nasceu quando começou a utilização dos telefones celulares, primeiro analógicos, depois digitais… Na verdade, foi quando os celulares se tornaram plenamente digitais e “smart”, que essa geração chegou na idade de utiliza-los.

Vou parar de escrever para voltar a ler meu livrinho: Les Intellectuels Faussaires.

(O corretor ortográfico da Apple não gosta de diminutivos: acusa erros em palavras como lojinha, livrinho, etc.).

Até depois.

Estou de volta. São 8h50. O trem agora está correndo bastante — mas vai chegar atrasado. Aparentemente um trem (um outro TGV) à frente de nós teve problemas e bloqueou a linha, nos obrigando a ficar parados por um tempo, que não sei qual foi, porque cochilamos, tanto eu como a Paloma. Mas agora a sensação é de que estamos andando realmente depressa. Mas parece que não será possível tirar todo o atraso. Acho que é nossa sina andar em TGVs que atrasam por causas diversas…

Paramos em Dijon, agora, e o TGV ficou totalmente lotado — pelo menos aqui no nosso vagão. Imagino que nos outros também. Estamos sentados num daqueles bancos de frente um para o outro, com uma mesinha no meio.

Fomos informados de que estamos com um atraso de 50 minutos!!! Pelo jeito dormi mais do que imaginei… Vamos ter menos tempo do que planejávamos em Paris. Ainda bem que a nossa conexão não é apertada, como a dos caras de dois bancos atrás de nós, que estão reclamando com o chefe do trem porque vão perder uma conexão importante.

A previsão do tempo dizia que o dia seria bom em Paris hoje, que até mesmo haveria sol, mas até agora (9h25) o dia está escuro. Mas, pelo jeito, ainda estamos há uma hora e quarenta e cinco minutos de Paris, e o sol pode aparecer até chegarmos à Cidade Luz. (Na verdade, não sei porque Paris tem esse apelido: New York me parece mais “luzificada” do que ela).

No trem há um ícone que indica que celulares devem ser mantidos silenciosos… Mas talvez o ícone queira dizer apenas que devam ficar em modo vibracall, porque já vi pessoas falando ao celular, embora poucas.

Voltando ao meu livrinho, na passagem que li o autor estava discutindo o conceito de intelectual. Conta uma historinha de que, quando François Mitterand assumiu o governo francês e decidiu visitar Mme. Thatcher, indicou que, enquanto estivesse na Inglaterra, gostaria de manter contatos com intelectuais ingleses. Diz a história que recebeu, do protocolo inglês, uma resposta que informava que poderia marcar uma reunião dele com filósofos, escritores, cientistas, até mesmo artistas, mas que não sabia quem (além desses) poderiai ser considerado um intelectual.

Segundo o autor, na França, um intelectual seria qualquer um desses que, entretanto, não se mantivesse preso aos limites de sua atividade profissional de filósofo, escritor, cientista, etc., mas se envolvesse nos grandes debates da época. Voltaire teria sido, além de filósofo, um intelectual, por ter se engajado em várias causas, como, por exemplo, a da tolerância religiosa para com os não-católicos. Envolveu-se decididamente no chamado “affaire Callas”, em que um huguenote (protestante) havia sido acusado de matar seu filho. Voltaire assumiu sua causa, mostrando que estava sendo acusado apenas por ser protestante, e, oportunamente, conseguiu que a acusação fosse removida. Zola também foi um intelectual nesse sentido, ao defender o judeu Dreyfus, no famoso “affaire Dreyfus”.

Mas, segundo Pascal Boniface, o autor do livro, o conceito de intelectual foi gradualmente expandindo o seu sentido. Há um momento, que gira por volta do auge da atuação política de Sartre, em que, em grande medida em decorrência dos paradigmas fornecidos por Voltaire e por Zola, não basta mais que um filósofo, escritor, cientista, etc., para jazer jus ao título, agora honorífico de intelectual, apenas se envolva nos grandes debates de sua época: é necessário que o faça “do lado certo”, esse lado sendo definido como o lado dos “sem voz” e, em parte por isso, “sem poder”. Dessa forma, para fazer parte da “claque” dos intelectuais, é preciso que o filósofo, escritor, cientista, etc. dê a esses destituídos de voz e poder um pouco de sua voz, conseguindo que eles, assim, vicariamente, se reconheçam na voz do intelectual e compartilhem um pouco do poder que eles possuem e que é decorrente da sua notoriedade.

Com isso o conceito de intelectual de certo modo se esquerdizou… Sartre passa a ser um filósofo e um intelectual, mas Aron continua sendo apenas um filósofo… “On disait autrefois quíl valait mieux se tromper avec Sartre qu’avoir raison avec Aron” (p.20). Não porque Aron não tenha participado dos grandes debates nacionais e mesmo mundiais da época que ele compartilhou com Sartre, desde a escola, mas porque Aron pendeu para o Liberalismo e, assim, segundo a esquerda, para a direita…

É nesse contexto que entra a temática que Boniface privilegia, a dos falsários. O intelectual, por defender uma causa que considerava justa, a dos sem voz e sem poder, começou a se julgar no direito de negar fatos inconvenientes (como, primeiro, a barbaridade do estalinismo, com seus assassinatos, seus gulags, etc., e, depois, a brutalidade injustificável da invasão soviética primeiro na Hungria, depois na então Tchecoslováquia). Também adquiriu o hábito  de inventar fatos inexistentes mas que colocariam seus heróis em boa luz, e de propaga-los como fatos reais. Além disso, não recuava diante do uso de argumentos falaciosos mas cuja falácia era difícil de detectar — tudo isso com consciência, intencionalmente, na crença de que os fins justificam os meios.

A temática dos mercenários intelectuais é relacionada. Estes, como já disse, não precisam acreditar numa causa: eles apenas assumem uma causa que lhes prometa trazer benefícios e passam a defende-la publicamente, sem nenhum escrúpulo de recorrer à falsidade, à meia-verdade, à contraverdade, como se elas fossem a verdade mais evidente e cristalina…

Um respiro… O sol apareceu, como a meteorologia havia previsto, e agora brilha, bonito no céu francês “de la campagne”, de “la France profonde”, enquanto nos dirigimos para “la cité” — não ouso dizer “la France superficielle”…

Ao entrar no TGV pudemos escolher um jornal. Escolhi o International Herald Tribune para poder ler com mais tranquilidade em Inglês… Dois artigos me chamaram a atenção. Um sobre a Educação a Distância Colaborativa no Ensino Superior. O outro sobre os pontos positivos da tão criticada Procrastinação. Vou levar o jornal para me referir a esses artigos posteriormente.

Agora o sol ficou do nosso lado e a sua luz chega a incomodar… Quem diria?

Já passou da hora em que deveríamos ter chegado a Paris: são 10h10, hora local. O trem anda rápido de novo. Há pouco o chefe do trem anunciou que o atraso havia sido reduzido para quarenta minutos. Quem sabe ele vai nos surpreender ao final e anunciar que foi reduzido para apenas trinta minutos? Ou quem sabe vinte? O trem está voando mesmo. Creio que dentro de uma meia hora estaremos parando na Gare de Lyon. É também de lá que sairemos hoje à noite para Veneza. Quem sabe achamos um depósito de volumes lá para não precisarmos carregar nossas mochilas nas costas pela cidade — embora elas estejam leves (em relação ao seu absurdo peso normal).

Enquanto a Paloma dormia dei uma lida no post dela sobre nossa viagem a Jungfraujoch. Está muito lindo. Ela agora está ativamente envolvida na continuação dele.

Fico aqui.

No TGV de Lausanne a Paris, 16 de Janeiro de 2013

Eduardo Chaves

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Vigésimo dia: Acertos e compras em Genebra

Hoje, dia 15, nosso vigésimo dia de viagem (não contando o dia em que saímos do Brasil, 26/12/12), ficamos aqui em Genebra, acertando umas coisas (planejando o que fazer nos últimos dias) e, feito isso, fazendo umas comprinhas.

Decidimos que iríamos tentar ir para Veneza, que a Paloma queria muito conhecer e que eu também não conheço. Daqui lá é uma viagem de 7h30 a 9h de trem. A Paloma havia visto uns horários que nos pareciam bons. A gente deixaria as coisas aqui no nosso studio e pegaria o trem por volta da meia-noite, chegando em Veneza de manhã, voltando na noite seguinte. Dormiríamos num compartimento leito, algo que a Paloma também nunca fez. (Eu, quando criança, viajava de leito com frequência de Ourinhos para São Paulo [Estação Sorocabana] e de volta. A gente morava no Norte do Paraná, Marialva ou Maringá, e vinha visitar meus avós e meus tios em Campinas. Depois de adulto viajei mais duas vezes).

Às 8h eu estava na estação de trem (Gare Cornavin), para tentar viabilizar esse plano. Aí começaram os problemas. O trem cujo horário a Paloma havia selecionado passa pela Suiça, vindo de Paris e indo para Veneza, mas não para… Quis saber onde ele parava, para pensar na possibilidade de a gente viajar até lá para pega-lo, mas ele é non-stop, não para em lugar nenhum. Sai de Paris às 19h59 (20h) e chega em Veneza às 9h30: 13h30 de viagem, sem parar…

Ocorreu-me, então, ali na hora, que, como nós temos o passe EuRail, a gente poderia ir para Paris de madrugadinha, passar o dia lá, e, às 19h59, pegar o dito trem. O cara achou a ideia meio doida (afinal de contas, Paris dista 900 km de Genebra, 3 horas no TGV – Trem de Alta Velocidade. O problema é que ele não conseguia obter um preço especial (o desconto do EuRail) para o compartimento de leito. Recomendou que eu fosse até o escritório da Companhia de Estradas de Ferro Francesa, do outro lado da estação. Fui lá, só abria às 9h, tomei um café num café para esperar, e, quando o escritório abriu, fui lá e expus meu caso.

A moça entendeu, mas não conseguia fazer reserva no trem Paris-Genebra. Tentou de todo jeito, ligou para a central dela, eles disseram que, para aquele trem, como no caso de todo trem que vai para a Itália, só pela Internet, etc. Ela entrou na Internet e fez de tudo: o site não deixava que ela fizesse a reserva.

Lembrei-me, então, que o agente suíço disse que ele conseguiria fazer a reserva, mas eu tendo que pagar o preço full pela cabine dormitório. Despedi-me da moça e voltei para a Estação de Trem.

Lá consegui fazer todas as reservas, inclusive para a volta, e obtive uma cabine leito de dois lugares.

Único problema: o TGV que vai de Genebra a Paris não tinha mais lugar na primeira classe (que fornece breakfast incluso no preço). Optamos então ir pelo TGV que sai de Lausanne, a meia hora daqui. Ali havia lugares. Único problema: vamos ter de nos levantar às 4h30 da manhã, mais ou menos, para pegar o trem para Lausanne às 5h e pouco e o TGV para Paria às 6h20.

Na hora de pagar, mais um problema: nenhum cartão meu foi aceito… Pensei que o Itaú houvesse cancelado minhas contas e cartões… Mas o rapaz resolveu tentar num outro guichê e ali a maquininha aceitou o primeiro cartão que eu havia dado sem problema. (Até o meu cartão de débito do Itaú é aceito em todo lugar aqui: lojas, restaurantes, bancos, caixas eletrônicos, etc.).

Voltei para o quarto e encontrei a Paloma já nervosa, porque fiquei cerca de 2h fora, sem poder me comunicar com ela — pois não habilitamos nossos celulares para usa-los aqui. Tomamos um chocolate no quarto e decidimos que, dados os planos de viagem, que vão nos ocupar amanhã e depois, dias 16 e 17/1/2013, seria bom fazer as famosas “comprinhas” hoje — pelo menos o grosso delas.

Assim, fomos para o Magasin Manor. Melhor: a Paloma foi, eu me enrosquiei na Librairie Payot, a maior de Genebra.  Combinamos nos encontrar no restaurante do Manor dali 2h.

Na livraria acabei comprando três livros:

1) Les Intellectuels Faussaires: Le Triomphe Médiatique des Experts en Mensonge, de Pascal Boniface

2) Le Grand Livre des Idées Reçues: Pour Démêler le Vrai du Fausse, de vários autores

3) The Making of Global Capitalism: The Political Economy of American Empire, de Leo Panitch e Sam Gindin.

O primeiro é livrinho, os outros dois, livrões.

Encontramo-nos, a Paloma e eu, no Restaurante do Manor, comemos alguma coisa, descemos, a Paloma comprou mais algumas coisas, e viemos para o quarto, já cerca de 15h, horário local. Mas ainda vamos precisar voltar lá (fecha às 19h hoje). Ainda bem que o magasin fica a cerca de três quarteirões daqui do Résidence Mont Blanc.

Quem sabe escrevo mais, depois. Mas,  quem sabe, também não…

Em Genebra, 15 de Janeiro de 2013

Eduardo Chaves

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Décimo nono dia: Um Passeio Encantado nos Alpes Suíços

Talvez o nome mais adequado a esse artigo fosse “O Passeio Encantado aos Alpes Suíços”. Não apenas porque foi o único passeio aos Alpes suíços que fiz em minha vida, mas também porque foi um passeio inesquecível…

Minha expectativa era alta. E sabe-se que quanto mais alta a expectativa, maior a chance de decepção. Entretanto, felizmente, fiquei maravilhada…

Desde 2008, quando o Edu me falou pela primeira vez de um passeio de trem por dentro das montanhas, minha imaginação foi buscar nas experiências da minha infância, na Montanha Encantada do Playcenter, uma referência acerca do que poderia ser esse passeio.

Naquela época o Playcenter era o melhor parque de diversões de São Paulo. Até os 12 anos de idade, eu só havia ido três vezes ao Playcenter. Uma vez com a excursão da escola, e duas com minha família. Eu ficava sonhando durante anos até ter outra oportunidade de fazer esse passeio. E a minha atração preferida era justamente a Montanha Encantada…

Ela tinha uma espécie de barquinha de fibra de vidro em forma de tronco de árvore com um banco único, longo, no meio, onde sentávamos com as pernas abertas. Nele cabia minha família inteira, inicialmente de quatro, e posteriormente cinco pessoas…

Toda a montanha era feita desse mesmo material, ora imitando rochas, ora imitando troncos de árvores. A barquinha subia por dentro da montanha, onde íamos ouvindo musiquinhas e vendo bonecos que dançavam e mexiam a boca para cantar… De vez em quando a barquinha parava de subir e seguia navegando por dentro da montanha. Às vezes ela dava uma saidinha de dentro da montanha, e podíamos ver todo o parque de lá de cima. Quando ela atingia o ponto mais alto da montanha, ela chegava à beira de um “precipício”, e escorregava de uma altura imensa dentro do corredor de água… Dava um tremendo frio na barriga… Era delicioso…

Lógico que eu sabia que, sendo um trem, ele não escorregaria pelo precipício dos Alpes suíços, mas imaginava as paredes de rocha e a vista da montanha no meio do caminho, a partir dos relatos do Edu.

Outra cena que sempre povoou minha imaginação infantil, era a da montanha coberta de neve. Neve nunca fez parte do meu universo. A barquinha do Playcenter, por exemplo, andava por dentro de uma montanha bastante tropical. Mas talvez as cenas de filme, especialmente daqueles associados ao Natal, mostravam cenários tão lindos cobertos de neve, que eu ficava imaginando como seria lindo conhecer um lugar assim…

A neve eu já conhecia havia algum tempo. Tanto a neve na paisagem urbana, quanto a neve na paisagem rural, vista especialmente de dentro dos trens nos diversos caminhos por onde passamos. Mas a neve na paisagem montanhosa é completamente diferente… Ela parece encantada, fofa, feita de algodão doce…

Mesmo a única estação de esqui que eu conhecia, na Serra da Estrela, em Portugal, não tinha um aspecto tão encantado quanto o que a minha imaginação guardava… Então eu ficava imaginando que encontraria uma cena bem “hollywoodiana”…

Além de tudo isso, há um terceiro elemento, que é o encanto do próprio trem… Ele remete a outro tempo, da infância dos pais, dos avós… Isso porque, no Brasil, já não se fazem mais trens como antigamente… Os trens que habitam minha memória são românticos, como a Maria Fumaça, ou mesmo como aqueles trenzinhos antigos de Campos do Jordão. Há uma magia nos trens até hoje, que leva centenas de pessoas a enfrentar fila para passear nele, nem que seja para dar uma voltinha pela cidade, especialmente no interior…

Juntando a montanha encantada, a neve e o trem, minha imaginação construiu um cenário simplesmente fantástico!

Há algum tempo venho acompanhando as postagens de um grupo suíço no Facebook. Por intermédio desse grupo fiquei sabendo da existência de uma cidade encantadora nos Alpes, chamada Grindelwald. Regularmente os membros desse grupo postam fotos tão lindas que parecem cartões postais…

Pois bem, o meu passeio encantado aos Alpes suíços incluiu até Grindelwald e conseguiu reunir os elementos possíveis para torna-lo inesquecível. Eu vi de perto, com meus próprios olhos, uma montanha coberta de muita neve fofa, com diversas casinhas com suas chaminés a pleno vapor, alguns rios que insistiam bravamente em correr em meio aquele cenário congelado, subi de trenzinho por dentro da montanha rochosa (não era de fibra de vidro), em alguns pontos de paradas estratégicas, enquanto nosso corpo se adaptava à altitude, eu podia apreciar a paisagem absolutamente branca, com alguns poucos pontos rochosos, e, para tornar o cenário ainda mais surreal, eu puder tomar um banho de neve, que caia densa, fofa, com flocos generosos, enfeitando a paisagem de forma única e especial…

Como se tudo isso não bastasse, presenciei um outro aspecto desse tipo de região, que foi o frenesi de uma Copa do Mundo de Esqui nos Alpes. Nas poucas estações intermediárias do trenzinho da montanha, subiam e desciam pessoas de todas as idades (desde crianças pequenas, quase de colo, até senhores e senhoras com cabelos branquinhos) equipadas com esquis, roupas especiais e muito entusiasmo, para alcançar as inúmeras estações de esqui espalhadas por toda a montanha…

As pistas pareciam não ter fim! Elas desciam quilômetros e quilômetros montanha abaixo. Nos pontos em que não havia estações de trem, havia estações de teleféricos que levavam os empolgados praticantes desse esporte para cima…

Em alguns pontos, especialmente os que possuíam estação de trem, havia restaurantes e hotéis, além de diversos chalés… Nunca imaginei que houvesse tanta vida e atividade no alto daquelas montanhas…

Foi uma das experiências mais incríveis pelas quais passei ao longo dos meus 37 anos de vida…

Obrigada, meu amor, Edu, não apenas por me proporcionar essa experiência, mas por criar em mim a expectativa de vive-la, e, principalmente, por vive-la junto comigo, com toda a emoção a que tínhamos direito…

No TGV de Lausanne a Paris, 15 de Janeiro de 2013.

Paloma Chaves

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